As aventuras de dois gatinhos vira-latas Brasileiros em terras Canadenses

Thursday, April 30, 2015

Sumi mas voltei

Oi povo lindo! Ó nóis aqui de vorta! Dei uma sumida por motivos de: Marido ressuscitou do mundo dos mortos. Pra quem não soube, ele tinha ficado de cama, com umas zoeiras no ouvido e uma tontura abissal (ainda não tá 100%, mas pelo menos já está minimamente funcional). Aí como ele voltou à ativa, aproveitamos para passear e curtir um pouco, para sair pra resolver coisas, e ele também está meio que monopolizando o computador pra tentar tirar o atraso dos dias de cama nums jobs que já venceram o prazo há muito tempo...

Mas vamos contar logo essas paradas-passadas que já tô de saco cheio disso e quero me alcançar logo pra começar a compartilhar nosso dia a dia com vocês. Então onde estávamos? Ah sim, na pindaíba, hahaha. Prioridade #3: conseguir juntar dinheiro de maneira rápida para custear os gastos iniciais e nos sustentar nos primeiros meses aqui até conseguirmos a Prioridade #4: Empregos! (que por sinal, ainda não deram em nada as estrevista que venho fazendo... Vamos aguardando pra ver se alguma coisa vinga)

Bom, assim que os planos começaram a soar mais concretos eu já tinha corrido pro Excel pra fazer algumas planilhas e ver se a coisa era viável. E era.... Quase... Talvez, hahaha. Não tínhamos nenhum dinheiro economizado. Nada. Zero. Caput. Mas tínhamos coisas, e coisas são "dinheiro": Era só vender elas!

A sacanagem, com a qual a gente não estava contando, é que a faculdade que o Tiago escolheu (BCIT) pede que se pague o semestre inteiro assim, catapimba, tudo de uma vez só (algumas outras faculdades deixam pagar mensalmente, o que seria ótimo pra gente, que não tinha dinheiro pra essas brincadeiras de "me dá vários mil dólares assim na lata"). Mas o super sogro veio ao resgate e adiantou as granas, e aí voltamos ao plano de sai correndo e vende tudo!

A gente tinha acabado de acabar de montar nossa casinha, ganhamos muitos presentes, a família toda ajudou pra caramba, até famílias que eu mal conhecia mandaram presentes lá de longe, foi um momento muito lindo e muito gostoso, e cada dia uma felicidade a mais (pra quem não acompanhou essa fase da nossa vida, a gente se mudou pro apêzinho quando só tinha as paredes e um saco de dormir, e aos poucos fomos montando a casinha, e todo dia, por um motivo ou por outro, a gente suspirava e falava "Ah, agora sim já é um lar, já temos: geladeira / fotos da família / comidinha feita em casa / uma cama / lugar pras visitas sentarem / potes para mantimentos / travesseiros / etc etc").

Aí, exatamente um ano depois, começou o processo inverso: Fomos vendendo tudo, descontruindo nosso lar, voltando à fase de dormir no chão e não ter forno, de se adaptar e viver sempre mudando, mas sabendo muito bem pra onde a mudança estava caminhando e curtindo acompanhar de pertinho esse processo. A cada dia uma coisinha nova sumia, e a gente ria quando ia jogar alguma coisa fora e percebia que a lixeira não estava mais ali, ou tomava susto quando entrava na sala e não via os sofás e os móveis.

Por essas sortes do destino, que vêm nos acompanhando nesta jornada, nesse mesmo momento em que a gente estava desmontando nossa casa, amigos nossos estavam montando as deles. Um casal muito amado comprou praticamente nossa casa inteira (quase todas as coisas grandes e mais umas quantas quinquilharias) e resolveu nosso dilema de "anuncia com antecedência e corre o risco de ficar muito tempo sem as coisas, ou anuncia em cima da hora e corre o risco de não vender?!". E mais uma vez foi um momento muito feliz e gostoso, a gente vibrando com eles pela casinha nova que estava ganhando forma, eles vibrando com a gente pela nossa aventura que estava tomando rumo.

O pessoal da equipe do trabalho do Tiago e mais a tchurminha geek de amigos também fizeram a festa na montoeira de eletrônicos e tecnologices que ele acumulou ao longo da vida. Teve mães de amigos comprando o mundo (pra ajudar, eu sei, viu, e agradeço do coração), teve amigos fofos fazendo propaganda, teve família botando coisas pra gente vender também... Foi muito amor.

Também anunciamos muitas besteirinhas nos sites de vendas on-line (e todo dia tinha que ir no correio postar 3 ou 4 coisas) e fizemos duas edições de Garage Sale (Churrasqueira Sale?!) no nosso condomínio, que foram uma maluquice de tão bem sucedidas! Os vizinhos ficaram doidos, teve mulherada se encrencando pra comprar as coisas, teve gente que ficou ofendido porque não sabia que estava tendo garage sale e "perdeu" a oportunidade... A fofoca rodou e ficaram sabendo quem era o casal que "tava vendendo tudo" e aí teve duas velhinhas que bateram na nossa porta 11 horas da noite (com um poodle que quase matou os gatos do coração) pra ver se a gente tinha camas de solteiro pra vender, e teve uns romenos que sairam entrando na nossa casa, abrindo armários e gavetas e pegando as coisas que nem tínhamos colocado pra vender, abanando no ar e gritando "20 reais, 20 reais, 20 reais!", e eram tantos deles (4) e só dois da gente que foi impossível conter a maluquice. Barganharam tudo, bagunçaram um monte, levaram meia dúzia de merdas pelos benditos 20 reais (secador de cabelo, ferro de passar, fronhas) e ainda tomaram uma passada de perna do Tiago, que só de vingança fez eles comprarem 2 assadeiras usadas por 30 reais (sendo que a gente pagou 20 nelas novas). Nem sei quem é pior nessa história, os romenos ou o Tiago, hahaha.

No geral, acho que essa experiência de desapego hard-core foi muuuuuuito boa (recomendo pra todos, sem moderação). Pudemos ver na prática quanta tralha a gente acumula sem motivo, quanto consumismo.... E olha que eu sempre me considerei uma pessoa desapegada, fazia limpas no meu armário várias vezes por ano e doava tudo, se alguma amiga gostasse muito de alguma coisa, eu dava na hora (não sei se por genética ou criação, mas certamente por "mamãe"), demos muitas das coisas que ganhamos "repetidas" de presente pros amigos que estavam juntando enxoval, e nunca fomos de sair comprando tudo só de olho gordo... E mesmo assim, quando a gente teve que fazer a vida inteira caber em duas malas é que a gente viu que tudo era excesso ou apego ou os dois. Eu adorei a experiência, me surpreendi muito com os resultados (ok, também me surpreendi com os resultados financeiros mesmo, mas aqui estava falando mais dos resultados emocionais): Não foi difícil, não foi triste, foi leve. Essa é a melhor palavra. Cada coisa que ia embora, achar um novo dono, dava um peso a menos (quase literalmente, como se o peso da coisa física tivesse saído das costas) e a gente foi ficando levinho, levinho, até poder vir flutuando pra cá, hehehe.

No final, não demos conta de tudo (como eu falei, crianças, não façam essas maluquices em cima da hora, cansa horrores e sempre tem mais coisas pra "cuidar" do que você estava antecipando), e foi tão, tão corrido que largamos tudo pra trás, casa bagunçada, suja, confusa, coisas nas gavetas e pelo chão todo... E aí a família mais uma vez veio segurar a barra e cuidar do caos que a gente deixou pra trás (como eu sempre digo, quem tem família tem tudo! Amo demais!)

Mas conseguimos, e chegamos aqui, com uma poupancinha um pouco otimista, todas as nossas posses socadas em 4 malas e a promessa de um futuro em branco.

Thursday, April 23, 2015

Mais um "pouco" do que já passou

Acho que todo mundo já riu bastante com minhas aventuras de ontem, né, hahaha (Obrigada pelos comentários pessoal, vocês são ótimos!) então vamos tirar mais um pouco do atraso nessa nossa longa (mas surpreendentemente curta) jornada até aqui.

Lá estávamos nós, com vistos e matrícula e faculdade paga e...? E aí? O resto todo?

Prioridade #1: Passagens. Papai salvou a pátria com umas milhagens/pontuações, marcamos as datas, reservamos as passagens dos gatos (a Fórmula Turismo fez todo o trabalho nesse sentido, então foi menos uma dor de cabeça! Eles foram realmente ótimos), e rapidinho resolvemos isso. Belê! Dia 9 de Abril estaríamos zarpando pra essa nova aventura. E dia 10 de Abril? Viraríamos mendigos canadenses?

Prioridade #2: Arrumar casa! (comida e roupa lavada não estavam ainda na lista de prioridades) Saímos olhando o Craigslist (uma espécie de classificados on-line super badalado, onde se pode anunciar - ou solicitar - quase qualquer coisa/objeto/casa/emprego) e mandando e-mails gernericos de "Oi, estamos nos mudando pra Vancouver... felicidade, felicidade... Gostamos do seu apartamento... felicidade, felicidade... Vai estar disponível em Abril?... Ingenuidade, ingenuidade... Você faria um desconto no aluguel?.... mais ingenuidade, mais ingenuidade... Obrigada-beijo-tchau". Logo de caras quase caímos num scam (inglês para trapaça, trambique, falcatrua, zuêra-dum-fiu-duma-égua).

Um apartamento maravilhoso, resplendoroso, bem no centro da cidade (Tiago iria à pé pra faculdade), todo chiquetosamente mobiliado, por 600 dólares por mês, e o amiguinho, um amor de pessoa, ainda respondeu que faria um desconto sim, faria por 500/mês. Estávamos no céu. A única condição era que, para segurar o apartamento até Abril (ainda era começo de Março), ele pedia que pagássemos adiantado... Aí devia ter soado o alarme, mas não soou, achamos razoável até (santa inocência). Perguntamos se podíamos visitar antes, o cara disse "Sure, of course" (pensando, provavelmente, que estávamos jogando verde, pois como íamos visitar se estávamos no Brasil?). Aí marcamos com um amigo nosso de ir lá e o cara sumiu, escafedeu-se, nunca mais deu as caras. Pronto, fim da história, mega decepção, e super medo de cair numa armadilha dessas de novo.

Mas continuamos olhando, agora com os sentidos mais escaldados, descobrimos mais uma meia dúzia de sacanagens, mas o mais importante: descobrimos que não dá pra alugar casa em Vancouver à distância, e, principalmente, à longo prazo. Tudo aqui é rápido demais, descomplicado demais, tudo acontece na hora e no ato (citando o chuchu: "Finalmente moro numa cidade que é mais rápida que eu"). Então no que a gente começava a trocar e-mails com algum "anunciante", ia um e-mail. voltava outro, tentávamos verificar se não era scam fazendo perguntas mais específicas e vendo o padrão das respostas, procurando coisas no google, mandava mais um e-mail e já era, tínhamos perdido a chance e o apê tinha sido alugado pra outra pessoa. Tudo isso em 2 - 3 dias! Às vezes menos, no mesmo dia que anunciava já alugava e acabou a conversa.

Se não dava pra ser com antecedência, então que fosse em cima da hora: Deixamos pra olhar na semana antes da viagem (gueeeenta coração!). Aí vem toda a pesquisa de novo, horas scrolling o Craigslist e tentando sair fora dos scams, horas mandando e-mails genéricos (dessa vez com "estamos nos mudando para Vancouver semana que vem"), e ainda assim sem nenhuma sorte, tudo alugava antes da gente conseguir piscar 4 vezes. E pela diferença de horários, essa cominucação ficava ainda mais esquisita.

Como estávamos nadando pra morrer na praia, passamos a ser menos seletivos um pouco: A princípio queríamos um cantinho só nosso, podia ser um apartamento, um basement suite (muitas casas fazem pequenos apartamentos independentes em seus porões, com entrada separada, cozinha, sala, quarto, tudo certinho. Pequeno, mas normalmente mais em conta que um apartamento mesmo), podia até ser um studio, um cafofinho em cima da garagem, qualquer coisa, contanto que garantisse alguma privacidade. Mas em vistas das dificuldades, passamos a considerar alugar quartos em casas de pessoas (o que não seria o ideal, mas pelo menos compensaria por ser significativamente mais barato). Passamos a essa nova fronte de ataque, mas esbarramos com outra dificuldade: Ninguém aluga quartos para um casal. Normalmente quem faz esses esquemas de roomate são estudantes solteiros, então todas as (poucas) respostas que recebmos foram negativas. Não desanimamos (Joseph Climber já dizia: "A vida é uma caixinha de surpresas" - quem não conhece, clique no link para rir mais um pouco, vale à pena) e continuamos mandando nossos e-mails genéricos.

Aí um belo dia chegamos em casa depois do trabalho e fomos olhar e tínhamos 8 e-mails do Craigslist! Ô louco, do nada todas as pessoas responderam de uma vez só?! Não: Do nada UMA pessoa respondeu de todas as vezes só, hahaha. Vários e-mails da mesma pessoa com mensagens muito esquisitas... O primeiro e-mail eram só 3 palavras "You seem perfect" e pronto - clicar em enviar! (Como assim?) Segundo e-mail "Uau, que coincidência que vocês são brasileiros! Eu estava agora mesmo dançando samba no meio da minha sala de estar! Deve ser destino" (Whaaaaaat?!). Terceiro e-mail "Poxa, que pena que eu já aluguei o quarto para outra menina, mas eu queria mesmo alugar pra vocês então por favor me respondam se ainda quiserem pra eu poder cancelar o contrato com ela e deixar o quarto disponível para vocês". Do quarto e-mail em diante eram versões levemente modificadas (mas igualmente creepy) da mesma coisa, todos roando em torno de "Respondam logo, por favor" e "Me liguem no Skype URGENTE" (e tudo com minutos de intervalo). Eu achei estranhíssimo, mas o Tiago queria ligar mesmo assim pra ver qual era a da mulher. Antes, fomos olhar de novo a descrição dela e do anúncio no Craigslist, e era mais ou menos nos seguintes termos: Aluguei um apartamento maravilhoso, mas é grande demais para uma pessoa sozinha, e eu gosto de ter a casa cheia, então estou procurando roomates. De preferência um casal, porque gosto muito de companhia, então quanto mais gente melhor. Eu sou uma Professional Cuddler (tradução livre: Aconchegadora Profissional), então por favor tenham animais de estimação para eu poder aconchegar em casa. Não conhecíamos esse termo (profissão?!) Professional Cuddler, mas pela composição da frase achamos que era algo relacionado com cuidar de animais (tipo uma versão mais fru-fru de um Pet Sitter ou algo assim). Raciocínio: Ela aconchega animais no trabalho, e quer algum pra aconchegar em casa. Nível de incocência: Over 9000. Tiago chegou a comentar "Ah, ok, ela talvez seja uma personalidade meio excêntrica, mas olha, ela trabalha com bichinhos, pode ser uma boa oportunidade pra você conseguir um emprego". HA. HA. HA.

Mas como não custa -literalmente- nada fazer uma ligação pelo Skype, lá fomos nós ligar pra mulher. Por incrível que pareça ela tinha o aspecto mais normal possível, uma voz tranquila e um jeito calmo de falar. Aí quando eu já estava quase me arrependendo dos meus preconceitos iniciais, ela começou a soltar as maluquices. "Acho que a gente se daria muito bem, primeiro porque vocês são brasileiros e brasileiros costumam ser mais liberais, e segundo porque tem nível universitário, então devem ser pessoas mais mente-aberta, e eu preciso de pessoas mente-aberta como roomates... Porque como vocês devem ter lido na descrição, eu sou uma Professional Cuddler..." Aí ela explicou o que seria isso. Basicamente, ela tem uma empresa que agencia Abraçadores Profissionais. Não, não de animais, de gente mesmo. Sim, pessoas pagam para ser abraçadas. Sim, pessoas trabalham abraçando estranhos em troca de dinheiro. E ela promove Cuddling Parties em casa (na casa onde a gente supostamente iria morar) então nós tínhamos que estar ok com eventualmente chegar em casa e ter 20 pessoas espalhadas pela casa (chão, sofás, camas) se aconchegando, se aninhando e dormindo de conchinha. OI?! Nesse momento acredito que nossos olhos devessem estar um tanto arregalados, enquanto nossos sorrisos tinham ficado congelados numa tentativa de não parecermos rudes/preconceituosos. E ela de fato me ofereceu um emprego (O.o). Ah, e ela também comentou que nós tínhamos que ser mente aberta porque ela era muito, muito, muito loud quando, eerrrr, bem, quando ela fazia algo mais que aconchegar.

E essa era basicamente a única opção que a gente conseguiu.... E ainda por cima era bem o que a gente precisava: Pet Friendly (aceitava - e até encorajava - animais), aceitava - e também incentivava - casais (só Deus sabe com quais segundas intenções), era bem localizado e relativamente barato. E já estava quase chegando o dia da viagem e ainda não tínhamos lugar pra ficar! E aííííí?....... Não, não aceitamos, HUAHUAHUA.

Seguimos conselhos e reservamos um hotel para os primeiros dias (4 noites apenas, já que pelos vistos aqui se aluga apartamento de uma hora pra outra). E depois que já tínhamos o hotel pago ainda recebemos a mais gentil oferta de um grande amigo do meu pai (Father Richard, o Padre mais legal ever!), que se propôs a nos receber pelo tempo que fosse preciso. Acabou não sendo preciso mesmo, mas isso vai ficar pra um próximo e-mail (e a gratidão vai ficar pra sempre).

Também ficará para depois o desenrolar da Prioridade #3: Conseguir dinheiro para nos sustentar nos primeiros momentos até que se concretizasse a Prioridade #4: Conseguir um emprego.

Aguardem as próximas postagens para saber quais foram as muitas peripécias na saga pra arrumar dindin pra bancar a aventura.

E agora chega que já abusei muito da paciência de vocês. Beijos enormes (num post enorme)!!!

Wednesday, April 22, 2015

Achei minha alma gêmea no ônibus (brinks)

Este post não será retroativo (é notícia fresquinha, de ocorrência recém-ocorrida!) porque queria dividir com vocês minhas (des)aventuras de hoje logo, que é pra depois não virem dizer que é exagero meu. Não é. Sou assim mesmo. Leiam, imaginem as cenas e tentem não rir muito da desgraça alheia (dizem que dá inferno).

Eu hoje estava num dia particularmente de "três patetas": Aqueles dias em que eu acordo com a gravidade desajustada, mais propensa (do que já normalmente sou) a esbarrar, derramar, tropeçar, deixar cair, etc, etc.

Fui de manhã fazer uma entrevista de emprego (foi bem, normal - era sentada, então não passei nenhum vexame - mas só vou saber a resposta semana que vem) e quando acabou fui passear um pouco. Home Depot - Tudo caro. London Drugs - Tudo caro. Canadian Tire - Tudo caro. Até que entrei numa Dollar Tree (tipo uma 1,99) e nesse momento meu destino estava traçado. A loja inteira, qualquer coisa, QUAL-QUER-COI-SA, por $1.25.

Ok, vou querer sim, por favor. Um de cada, por favor. DE TUDO! :O

Surtei, comprei uma caçambada de coisas e só gastei 40 dólares! E digo uma coisa: Só não comprei mais porque estava mega apertada e a loja não tinha banheiro (deram mole, perderam mais $7.50 de bobeira! Huahuahua).

Safra do dia! Tudo isso por apenas 40 dólares!

Eu aguentei até estar quase explodinho, e no caminho do caixa ainda peguei mais umas coisas, hahaha (capitalismo feelings). Aí fui correndo (com minhas 5 sacolas de porcarias e mais um balde gigante azul turquesa que não cabia em nenhuma sacola) pro Tim Nortons (cafeteria canadense concorrência do Starbucks) do outro lado da rua pra usar o ladies room.

Só que a calça que eu escolhi pra usar hoje (bonita, sofisticada, com cara de "vou te contratar na hora") por alguma razão muito obscura, tem uma porrada de botões, por dentro, por fora, pelo avesso, por trás do zíper (verdade, o estilista devia ser fissurado por botões), de um lado, depois do outro. É um inferno, e não faz a menor diferença: Tanto até que normalmente eu nem abotoo todos os botões, só os dois da frente e pronto. Mas hoje, não sei se eu precisava daquela "abotoada" de confiança a mais pra entrevista de emprego, mas inventei de apertar todos os benditos botões. Aí no que eu estava me desvencilhando das 400 abotoaduras, e quicando e dançando pra tentar disfarçar a vontade, de algum jeito consegui enganchar o brinco na echarpe, de um jeito que eu não tinha por onde puxar de volta. A essa altura eu não sabia se tentava vencer o brinco ou os botões da calça, ainda pulando e espalhando cada vez mais meus cacarecos pelo chão, então acabei fazendo xixi com o pescoço todo repuxado pro lado, olhando pro teto (ainda bem que não sou menino e não preciso "mirar").

Bom, aí eu, minha echarpe rasgada, minha orelha machucada, minhas 5 sacolas e meu balde gigante azul turquesa fomos pegar o ônibus de volta pra casa. Esbarrei em metade das pessoas tentando entrar e pagar a passagem (ainda não estou com o passe de ônibus) mas lá consegui entrar (I'm sorry, Ooops, sorry, Excuse me, Sorry). Maaaaassss, aí eu encontrei uma pessoa quase tão atrapalhada quanto eu (minha alma gêmea, hahaha). Um homem ali-baboso, com aqueles turbantes maneiríssimos enormes, me pisou por trás enquanto eu andava e eu perdi um sapato no meio do ônibus. Ele pediu desculpas, ficamos os dois rindo (eu descalça) e aí começou o episódio de chaves: Nós dois abaixávamos juntos (eu quase tomava uma turbantada na cabeça) pra pegar o sapato, ninguém pegava, nós dois levantávamos juntos, ríamos sem graça, abaixávamos juntos de novo, and so on. Até que numa dessas abaixa-levanta-estica-e-puxa, eu (ainda com as 5 sacolas na mão) consegui enganchar uns cabides de arame que estavam espichando pra fora do saco nas costas do meu casaco, e não conseguia tirar de jeito nenhum (ficava rodando que nem cachorro atrás do rabo). O habibi aproveitou a oportunidade pra pegar o sapato e aí, nesse exato momento, o ônibus deu uma guinada (freiada, sei lá) e vôou o homem prum lado, o sapato pro final do ônibus e eu caí sentada (milagrosamente livre do gancho nas costas) num dos bancos. Mas nesse balancê (iê-iê-iê-iê), acertei com o balde gigante azul turqesa na cara de uma perua chinesa de cabelos ruivos que estava no banco ao lado (quase arrancando os cílios postiços dela). Bom, eventualmente o senhor turbante-atrapalhado conseguiu se recompor e me trazer meu sapato de volta, enquanto eu me desmanchava em desculpas pra uma chinesa piscante com cara de estúpida.



Sancho provavelmente sentindo o cheiro do Sr. Turbante.

Essa foi a saga do dia. Mas chegamos todos vivos e bem em casa, eu, as sacolas e o balde gigante. Depois conto o resultado da entrevista de emprego.

Beijos estabanados!

Tuesday, April 21, 2015

Segundo post do dia: Comendo uma bela porção do atraso num post grotescamente grande

Mas então conta essa parada aí direito: Que história é essa de se mudar pro Canadá? Como assim?

Assim! Quem nos conhece sabe que não é de hoje essa nossa coçeira nas ventas de querer ir embora e explorar o mundo. Morar em outro lugar (qualquer lugar) sempre foi um sonho, só nunca tinha virado um plano concreto ainda. Namoramos as possibilidades de ir pra Portugal, mas a recente crise abafou um pouco esse sonho, amigos propunham américa latina (Chile, Argentina), mas preferíamos tentar trocar o 6 por duas dúzias em vez de arriscar cair numa mesmice espanholizada, família em Londres permitia alguns sonhos por aqueles lados também, mas que acabaram não vingando... Aí começamos a brincar com a possibilidade do Canadá, e os sinais foram coincidindo nesse sentido: Amiga linda veio plantar a primeira bandeira e colonizar nossas possibilidades (né, Van?!), amigos lindos começaram a cozinhar planos canadenses também (quero ver isso deslanchar, hein, dona Vania e mr. and mrs. Rapha), fomos fuçando sites e feiras de "Estude no Esterior".... Até que, quando percebemos, tínhamos um plano nas mãos. Aí era só botar em ação!

A grande sacada foi termos descoberto que, se uma pessoa consegue um visto de estudante, o cônjuge automaticamente consegue um visto de trabalho. Aí traçamos o plano, que seria: O Tiago iria cursar alguma faculdade (já que eu já tenho Faculdade, Mestrado e uma penca de cursos na minha área), e enquanto isso eu arrumaria algum emprego qualquer para "sustentar a família". Quando ele terminar a faculdade, ele também consegue (semi-automaticamente) um visto de trabalho por pelo menos a mesma duração do curso. Aí ele já vai provavelmente conseguir algum emprego mais alto nível, com um salário mais gordinho, e aí eu posso ver se faço algum curso na minha área ou tomo algum passo pra me colocar melhor no mercado de trabalho.

Com essas linhas gerais já definidas, começamos a trabalhar nos detalhes.

Escolhemos a cidade: Vancouver! Por quê? Porque era aqui que nossa amiga estava morando. Simples assim. Aí depois viemos a descobrir que a cidade é maravilhosa, que é a melhor qualidade de vida de todo o Continente Americano (péra, deixa eu repetir essa parte, acho que os vizinhos de baixo ainda não ouviram: Eu disse de TODO O CONTINENTE AMERICANO! #chupaUSA), que é uma das cidades mais "verdes" do Canadá e que até 2020 pretende ser A cidade mais verde, etc, etc... Lucky us!

Aí escolhemos a faculdade do Tiago: BCIT, no programa de Digital Design and Development! E mais uma vez, só depois descobrimos que essa faculdade é sinistrona, que é tipo o MIT do Canadá, e até hoje sempre que comentamos que ele está cursando BCIT, seja com o atendente do supermercado ou com o gerente do banco, a resposta é sempre a mesma "UAU! com um diploma da BCIT você arruma emprego onde quiser!" Deus te ouça, senhor indiano que instala internet.... Ou seria Shiva te ouça, sei lá, hehe.

Aí fomos esmiuçando os outros detalhes... Fuçamos a internet de alto a baixo e pelo avesso também, lemos tudo que conseguimos encontrar a respeito. Fiz planilhas pra medir nossos gastos esperados, de acordo com depoimentos que achei na internet. Calculei os custos médios de aluguel e de todas as contas em que consegui pensar (até coisas que não vemos no Brasil, em geral, como contas de coleta de lixo e de esgoto), entrei no Walmart.ca pra ver preços de comidas e coisas em geral, e coloquei tudo na bendita planilha (Excel é muito amor).

Aí em Dezembro do ano passado viemos passar umas férias-com-segundas-intenções aqui (chegamos no Natal, naqueles vôos mais baratos que ninguém quer porque, bom, porque é no Natal, hahaha, mas pra gente foi um presentão!) Simplesmente amamos a cidade, e nossa vontade de vir pra cá de vez começou a virar uma vontade de nem ao menos voltar pro Brasil. Voltamos, mas foi com uma urgência de ajeitar tudo pra vir embora de novo. Previsão de mudança: Setembro... Aí a faculdade faz a oferta-do-diabo: Uma turma começando em Abril, mais intensiva (conteúdo de 2 anos em 1 ano e meio) e com melhor preço. Aí passamos do tipo de desespero A (ai meu Deus, falta muito pra gente voltar pro Canadá, num guento mais) pro desespero B (Avemariajesuscristodiscomjuro falta muito pouco pra gente ir embora de vez e tem que sair correndo pra resolver tudo!)

Mais uma vez corre pra internet, olha tudo, lê tudo, milhares de abas abertas, desespero, desespero: Mas descobri os macetes pra agilizar o visto (macetes tão obscuros que nem a moça do Visa Application Center conhecia), corremos com toda a papelada, tivemos ajuda da família inteira (das duas famílias inteiras, actually) e conseguimos: Vistos prontos em menos de 1 mês (mas atenção, crianças, não tentem reproduzir esses experimentos em casa! Se planejem direitinho e não façam as coisas em cima da hora).

Quando os vistos ficaram prontos é que a ficha realmente caiu: É, a gente tá indo daqui a um mês! E não temos como ir (passagens, dinheiro, sei lá, malas prontas! Não temos nada pronto na verdade), nem como chegar lá (lugar pra ficar, emprego, nada!)

Mas essas são aventuras que vão ficar para um próximo post, que agora tenho que me preparar para uma ****SPOILER ALERT**** entrevista de emprego. Wish me luck... Daqui a alguns posts eu conto como foi, Mhuahuahuahua.

Adieu! Bisous!

Nasceu atrasado pra vida

Começo hoje a escrever este blog, mas o blog não começa hoje. Ele já vem há muito tempo, embrionando em mim aos pouquinhos, pra nascer agora, e já atrasado pra vida. Digo atrasado porque ele começa só depois do que se propõe a narrar, e agora nós vamos ficar descavando o que já passou pra achar sentido no que está se passando. Mas isso faz parte, eu acho...

Mas então se não começa hoje, quando começa este blog? Achar um começo pras coisas é sempre um pouco difícil, nada começa do nada. Mas acredito que os primórdios disso aqui se achem lá nos 2000 e muito pouquinho ainda, no tempo em que se imprimia e-mails, quando, aos 16-quase-17 anos meus super-avançados pais me mandaram pra passar 3 meses em Londres, na casa da minha madrinha, pra aprender inglês. A condição: Eu tinha que dar notícias todos os dias, e como ligações eram muito caras, me cabia escrever um e-mail todo o dia, relatando minhas experiências. Já era quase um blog, mas ainda era quase um folhetim, hehehe. Eu mandava um e-mail pro meu pai, que imprimia várias cópias no escritório e distribuia pela família (cópias pros avós, pros tios e até pra alguns amigos). Meu pré-blog-folhetim fez o maior sucesso e a cada novo capítulo mais assinantes apareciam, e no final já eram várias cópias por dia, que circulavam e re-circulavam de mão em mão.

Desde então, a cada viagem que eu faço, escrevo e-mail diários contando como está sendo. Mas é uma lista muito grande de destinatários, e eu sempre acabo esquecendo de incluir alguém, que acaba ficando chateado, e tal e coisa. Então, desta vez, resolvi finalmente ceder ao que a tecnologia nos dispõe, e (atrasada) comecei um blog. Meu avô já tem 2 blogs, há anos, e eu começando o meu agora... C'est la vie...

E qual é a aventura que está no menu desta vez? A maior até o momento, eu diria. Mais assustadora que uma adolescente perdida pelas ruas de Londres, mais deliciosa que férias em Paris, mais impactante que todas as outras viagens juntas? Chapolin Colorado?! Não, quase. NOS MUDAMOS PARA O CANADÁ! Mas oi? Como assim? Então... Essa é a parte em que eu digo que o blog já nasceu atrasado. Era pra ter começado antes, no "estamos planejando/pensando/considerando nos mudar para o Canadá, então venham e acompanhem nosso progresso e nossas descobertas ao longo desse processo". É, too late for that. Aí eu pensei, "Ah, ok posso começar o blog quando estivermos quase indo, vai ficar legal também" ~ Nops, não deu tempo. "Ok, então, começo a escrever assim que chegar lá, e aí o blog vai de fato substituir os e-mail diários das minhas viagens" ~ Hahahaha, até parece.

Bom, mas agora com tudo já quase assentado e muito avancadamente encaminhado, vai me sobrar o tempo que eu preciso (hopefully) para começar a narrar nossas aventuras, e das duas crianças peludas que trouxemos na bagagem (Sancho e Pepe, dois gatinhos resgatados das ruas do Brasil que agora miam em inglês e comem Fancy Feast todo dia). Mas vou tentar fazer isso retroativamente, contando de trás pra fente como foi nosso caminho até aqui, e vir des-andando nossos passos até tropeçar no aqui-agora.

Por enquanto fiquem com este post introdutório, e aguardem que já já vem outro, contando um começo-passado-atrasado.

Muitos beijos familiares e abraços públicos, que agora nossos e-mails da família estão soltos na internet (é rapá, bobeou, tá na net).



Escondidos no armário ainda empoeirado

Este é o Sancho Panza

E este é o Pepe Legal