As aventuras de dois gatinhos vira-latas Brasileiros em terras Canadenses

Saturday, May 30, 2015

Gata Borralheira

Era uma vez, num reino muito, muito distante...

... Uma doce e meiga menina (cof, cof) aprisionada num castelo de panquecas, onde a madrasta cruel estava sempre gritando com ela em "koreaninglês", uma língua terrível e assustadora, hahaha. Tá tipo assim mesmo, só estou esperando os passarinhos e os ratos virem me ajudar, que já tá fo#@ :P

Basicamente, minha rotina no IHOP é igual a da Cinderela mesmo (já até perdi um sapato no ônibus, então acho que #taserto): Tenho uma madrasta-manager bizarra, que passa o dia gritando e dando esporros em todo mundo (num inglês-koreano horroroso e gaguejante mas com um indiscutível tom de humilhação) no melhor estilo Hell's Kitchen boladão de ódio... Se fizer, leva esporro porque fez, se não fizer, leva esporro porque não fez. Se fizer errado leva esporro duplo, se fizer certo leva esporro pra fazer mais rápido. Se ajudar alguém com as tarefas, leva esporro pra aprender a não se meter, se não ajudar, leva esporro pra não ser egoísta. True story, bro, não tô exagerando em nada! Já tomei vários foras por tentar ser pro-ativa e fazer alguma coisa idioticamente simples (tipo guardar os potinhos de peanut butter no lugar) enquanto não tem nada pra fazer "das minhas tarefas", porque "essa não é a minha tarefa"! Meeooo Deoozziiiss, e agoraaahh? O mundo vai explodir porque eu guardei a caceta da manteiga de amendoim sem ser minha tarefa! Malz ae por ter tentado ajudar, tia...

Aí você pensa "&@$#*&#**$ também não vou fazer mais nada então nessa birosca, a não ser minhas 3 estúpidas tarefas: Sentar os clientes que chegam, trazer as bebidas deles e limpar as mesas quando eles saem". Resolveu? Não: Esporro. Porque? Sei lá, varia de acordo com o feeling do momento... Ou porque levei todas as bebidas de uma vez (e ela acha que vou derramar) ou porque levei metade de cada vez (e ela acha que vou demorar), ou porque eu estou andando da direita pra esquerda e deveria ser da esquerda pra... Ah, faça-me o favor, né?

O fato do trabalho ser bem basal (na vibe da Cinderela mesmo, hehe) não me incomoda em nada, de verdade, é só a "madastra" que tá pegando.... Ok, pra ser sincera, no início exigiu uma certa desconstrução das minhas auto-expectativas encarar um emprego desses, e até confesso que foi mais fácil aceitar na teoria um sub-emprego imaginário quando estávamos ainda planejando essa loucura de mudar de país ("e se for pra fritar batatas no McDonalds, ok"), do que na prática, na hora de realizar que minha profissão agora é limpar a sujeira dos outros, tendo meus lindos diplomas de mestrado e do escambau arquivados numa pasta em casa. Mas essa parte foi só uma facadinha no ego que cicatrizou rapidinho. Mas aturar todo dia várias horas de trabalho braçal generosamente salpicadas de esporros constanstes, pode ser bem challenging... Entãou vou dedicar este post ao meu Manual de Cinderela: Um guia mental para aturar a madastra má e as tarefas degradantes e ainda ter ânimo para acordar cantarolando todos os dias.

#1 Supéralo: Adoro os memes "supéralo" que volta e meia pipocam no meu Facebook, e deles tiro a inspiração para baixar a bola. O ponto fundamental é: você não é o fodão, supere isso. E eu não sou a fodona. Engole esses diplomas e sua moral inflada e cai pra vida que é isso aí.

#2 Sinta orgulho: Eu já a muito tempo reparo um fato que sempre me pareceu curioso e admirável: Que o orgulho que uma pessoa sente de seus feitos tem mais a ver com a pessoa do que com os feitos. Já vi muitos pedreiros mais orgulhosos de suas obras, de como a parede ficou lisinha e o piso nivelado, do que engenheiros dos seus projetos. Já vi mais faxineiras orgulhosas de um banheiro cheiroso do que executivas de suas reuniões em hotéis 5 estrelas. E assim eu também, que sempre senti muito orgulho da minha carreira acadêmica, agora faço o exercício silencioso de me orgulhar dos talheres simetricamente dispostos, da mancha de ketchup escondida atrás do saleiro que foi encontrada e limpa, de conseguir lembrar 8 pedidos de bebidas de uma vez só... Enfim, nenhuma tarefa é pequena demais que não mereça seu melhor desempenho, e consequentemente seu orgulho ao completá-la. Tudo bem que esse exercício fica BEM mais difícil quando você tem uma bruxa carcomida te atazanando as idéias e tentando te convencer de que tudo que você faz está errado por algum motivo bizonho ou por outro... Mas isso só faz com que seja mais importante ainda encontrar e cultivar esse orgulho.

#3 Encontre refúgio: Eu, particularmente, coloco uma boa música pra tocar na minha cachola ou evoco alguma lembrança boa ou mentalizo alguma pessoa que eu amo (vocês, meus lindos que estão me lendo aqui, podem ter certeza que em mais de um momento já sumonei cada um de vocês pra animar meus dias de gata borralheira).

#4 Recolha gotinhas de alegria: "Gotinhas de alegria" estão em vários lugares, você só precisa saber encontrar e absorver. Está um dia bonito lá fora? Olhe pela janela enquanto limpa a mesa e deixe a beleza entrar em você. Tem uma criança fofa na mesa 45? Dê um sorrisinho pra ela, ou um tchauzinho: Com certeza ela vai te "responder" e você poderá desfrutar de 3 segundos de fofura extrema. Faça uma piada ou uma gracinha com algum colega de trabalho ou algum cliente: Mesmo que a piada saia sem-graça porque você está meio amargurada, a resposta é (quase) sempre positiva, e aí você pode colher outra gotinha de alegria que você mesmo plantou.

#5 Tenha perspectiva: Aquela velha frase de "podia ser bem pior" é horrível de se ouvir, mas ajuda muito quando você está passando por desafios constantes. É um jeito meio distorcido de ter gratidão, de count your blessings, mas funciona bem quando você não está num momento particularmente grato. Eu gosto de olhar outras pessoas, muitas delas com olheiras profundas, com uma cara de acabadas, e pensar "Eu não sei os desafios pelos quais ela está passando, mas certamente eu não gostaria de estar assim tão cansada" e de repente meus problemas parecem menores, mais suportáveis. E eu lembro que minha vida na verdade é super feliz, e que eu estou exatamente onde queria estar, com quem eu queria estar e fazendo exatamente o que eu me propus a fazer.

#6 Descentralize: Não é tão fácil, mas é uma continuação do exercício anterior. Olhar as pessoas em volta fora da sua própria perspectiva (não como o que essas pessoas representam para você -chefe, cliente, colega- mas sim como o que elas são para elas mesmas) é o primeiro passo, e dele você tanto vê que os seus problemas não são tão problemáticos assim (#5) quanto que o que as pessoas fazem ou como elas agem é um reflexo delas mesmas, e não de você. Isso te leva a uma conclusão maravilhosamente simples: Eu não estou tomando esporro tanto assim pelo que eu faço, mas em grande parte pelo que a pessoa que me dá esporro é/faz/pensa. Assim, eu fico menos deprimida comigo mesma e posso voltar a ter orgulho do meu TOC por talheres simétricos! O único cuidado aqui é não reagir a essa mentalidade com "Sua vaca mal amada gritalhona!" e sim tentando extender a ela a mesma compaixão de "Não sei quais são os desafios que ela enfrenta, mas também não devem ser fáceis, pra ela ficar com esse belo humor de porco-espinho acuado".

#7 Pense macro, não micro: É importante entender, e muitas vezes se re-re-re-RE-lembrar, seus próprios motivos. Porquê estou aqui, passando por tudo isso? Ou melhor: Para quê? Eu tenho meus objetivos pessoais, e eu entendo que essa é a estrada que vai me levar a eles. Se eu ficar focada de mais nas migalhinhas de problemas que tenho agora, perco de vista a big picture. Mas se eu olhar bem pra frente, pro horizonte dos planos, percebo que tudo é passageiro e um dia eu não estarei mais aqui, e sim lá. E aí vou fazer a dancinha do caranguejo "ne-ne-ne-ne!" hahahaha.

Bom, eu podia continuar, mas vou parar em 7 pra dar sorte (e poupar vocês, hehe)...

Mas talvez esse meu conto de fadas ainda tenha um final clichê, porque meu príncipe-encantado-no-cavalo-branco está vindo me resgatar: O Tiago, com toda a moral que ele já conquistou no emprego dele (que pode ser aqui descrito como a terra-encantada-dos-sonhos-felizes, já que a chefe dele é um amorzinho-bilu-bilu comparada com a minha bosszilla, e até leva guloseimas pra ele no meio do expediente) está vendo de me descolar um emprego lá também. Assim, se isso de fato se concretizar, eu escaparia das masmorras do IHOP, manteria o outro emprego na Sears (que começa semana que vem e é só part time também) e pegaria esse aí de part time também. Mas enquanto nada disso acontece, eu vou levando a vida assim de tom em tom, e sou grata pela oportunidade de estar praticando meus skills de Cinderela-zen.

Mandem-me suas vibrações positivas também. Amo vocês. Beijos-encantados.

Friday, May 22, 2015

Nóis precisa de worká

Então, o último post eu terminei com "Agora eu tenho que ir que já me atrasei pro trabalho", né? Aaaaahhhh, as ironias da vida... De fato ela é uma caixinha de surpresas!

Eu já tinha dado uma pincelada aqui sobre nossa saga de procurar/arranjar empregos, e já tinha contado da minha primeira experiência (um fim de semana catando telefones de pessoas pela rua para que depois algum telemarketing possa infernizar a vida delas até elas se convencerem a comprar um aspirador de pó overpriced) e já tinha introduzido minha segunda aventura trabalhística (quase a mesma coisa, mas dessa vez tentando conseguir doações para criancinhas escravizadas do terceiro mundo, ou para criancinhas internadas em estado crítico no hospital da cidade). Bom, como eu ia continuar nesse esquema de andar pra-cacetemente indo de porta em porta, comprei um par de tênis (melhor investimento DA VIDA, valeu cada um dos 4 mil centavos que custou) e parti pro abraço! Eu até que gostei desse lance de passar meus dias andando por aí, conheci várias vizinhanças fofas, me distraía olhando as flores e os esquilos, imaginando como seria se a gente morasse nessa casa, ou naquela, ou naquela, ou naquela... Também gostava da parte de falar com as pessoas, 80% delas eram muito simpáticas, 10% não falava inglês e as outras 10% só falavam NÃO e fechavam a porta na minha cara, mas como isso era só 1/8 de segundo de grosseria, ok, ignora e vamos pra próxima porta conhecer algum imigrante legal com uma história legal pra contar (todo mundo aqui é imigrante, e quase todo mundo é legal, hehehe). Fiz muitos "amigos de 5 minutos" (principalmente velhinhos, que aproveitavam a chance de finalmente surgir alguém ali pra ouvir as conversas deles) e conversei com muitas pessoas diferentes, maaaaassss.... Por mais feliz que fosse a conversa, por mais animada que eu me fizesse, por mais simpáticos que eles parecessem... Eu simplesmente não conseguia doadores. Todo mundo achava muito legal ajudar as criancinhas, muito lindo o que eu estava fazendo, muito "boa sorte com tudo mas não vou doar não, obrigada". Fuéin. Em 2 semanas consegui 2 doadores (e o normal é conseguir isso - ou mais - por dia! Pra vocês verem minha situação). Então eu já estava percebendo que a coisa não ia rolar muito bem assim, hehehe. Até porque eles pagam um salário cheio, por hora (e nem é salário mínimo, é até um pouco mais) independente de performance, então empregar alguém como eu (incapaz, por alguma maldição do destino, de conseguir doadores), é praticamente tirar comida da boca das criancinhas famintas (o que eu consegui de doação não cobre o que eles me pagavam pra trabalhar). É, farejei demissão (além de ficar seriamente com peso na consciência por não estar produzindo nada) e quarta-feira fui pro trabalho com uma bandeija de pães de queijo recém-assados pra oferecer pra todo mundo e um pedido de demissão na ponta da língua. É sempre melhor, em termos de currículo, você pedir pra sair do que ser demitida, e como qualquer çeromano poderia claramente perceber que eu não era, por assim dizer, the best fit for that job, pedi pra falar com a gerente, e disse que me sentia mal não trazendo resultados, e que talvez fosse melhor não insistir no que claramente não estava funcionando e tal e coisa. Ela, uma jamaicana extravagante e muito bem "guarnecida", foi um docinho de côco, uma simpatia tanta que o pobre até desconfia, e me lavou com um discurso de como eu tinha muito potencial e só precisava ganhar mais um pouco de confiança e prática, e que ela não queria me ver desistindo assim tão fácil, pra eu continuar mais um pouco, que ela ia ver de me treinar de novo, talvez por uma pessoa diferente, e blábláblábláblá. Ok, não desisti, arquivei meu pedido de demissão junto com o pote vazio dos pães de queijo e fui pra rua mais uma vez, e mais uma vez voltei de mãos abanando... Mas tá tranquilo, eles vão me treinar, they say, não é pra eu desistir, they say... AHAM, CLÁUDIA, vão sim!

No dia seguinte, NO-FREAKING-DIA-SEGUINTE, mal eu entro no escritório e a jamaicana já vem "ah, então, infelizmente você não está sendo produtiva então vamos ter que esquecer toda aquela baboseira que falei ontem e te demitir, ok?". OI?! Que que houve, o pão de queijo te deu caganeira? Oh louco, véi, a mulher no mínimo tem distúrbio de múltiplas personalidades. So much for "pedir demissão pra pegar melhor no currículo" kind of thing...

E o pior dos piores de tudo foi que eu, já na certeza de pedir demissão na quarta-feira, tinha marcado uma entrevista pra outro emprego (na Sears) para quarta à tarde, a qual, depois de ser persuadida pela mother-africa (pra não dizer mother-f*****), tive que "cancelar" (cancelar, neste caso, meaning não ir, porque simplesmente não consegui falar com a mulher para avisar desse pequeno "contratempo"). Passei lá no final do meu expediente só pra dar as caras e alguma espécie de justificativa, que pela cara de limão azedo da gerente ela não engoliu nem mais ou menos. E tudo isso pra ser demitida no dia seguinte. É, maldita caixinha de surpresas, hahaha.

Mas como o baguio aqui é doido, e não po$$o ficar parada, eu pensei "Quer saber? F***-se, estou com um currículo na mão mesmo (que tinha levado para a entrevista-furada de quarta e acabei não usando e esquecendo no escritório do recém-ex-emprego) então vou passar no primeiro lugar que encontrar que esteja contratando (normalmente colocam uma plaquinha de "hiring" na porta) e vou largar meu currículo lá". Achei um IHOP (restaurante bacaninha de café da manhã) contratando num shopping perto de casa, entrei, o gerente estava lá, já fez a entrevista e pronto, resolvido. Demitida num lugar e contratada noutro em menos de 1 hora! Catchaw! Alô, é do Guiness? Queria anunciar um novo recorde...

E no fim das contas a entrevista que furei na quarta consegui remarcar pra sexta (hoje) e fui lá e consegui reverter a primeira (má) impressão e agora a Sears quer me contratar também! Ou seja, vou ver se dá pra dar um rebolation nos horários e ficar com os dois empregos... Chupa essa manga Dona Jamaica! Parafraseando meu primo: ♫ "Eu tenho dois empre-gos, você só tem u-um!"

Mas bom, brincadeiras à parte, nesse emprego das ONGs ainda me diverti um bocado, conheci também muita gente interessante entre os próprios colegas de trabalho, todo mundo com uma vida diferente, histórias interessantes, a grande maioria jovens estudantes que vieram de todos os lugares do mundo tentar a sorte aqui, sozinhos, na coragem... E todo mundo era muito legal (inclusive a Big Boss, que tô meio sacaneando aqui, mas é mais pra animar a narrativa do que por ter guardado qualquer rancor dela - que não guardei, ela era bacana até). E agora é bola pra frente que o jogo é esse mesmo, e só perde se ficar parado. Ainda continuo semeando currículos pela vida, sonhando alto ou chutando o balde, e até algum vingar sirvo panquecas ou vendo sapatos, o que estiver na vez.

E nesse meio tempo o Tiago, que esteve numa saga parecida procurando algum part time pra preencher os horários em que não está na faculdade, deixou currículo em lojas de CDs, lojas peças de carro, aplicou on-line pra lojas de eletrônicos e de telefonia, foi entrevistado para ser picador de legumes num restaurante, e acabou contratado pra trabalhar numa casa de câmbio... E está arrasando a boca do balão! No segundo dia de trabalho já ficou lá sozinho cuidando de tudo, no terceiro dia ganhou acesso ao super-master-cofre-milionário e já está sendo comentado como o aprendiz mais rápido (do velho oeste) que elas já viram. Go chuchu! Não dou dois meses pra ele ser gerente do lugar, hahaha.

Ai, ai... Segunda já começo no trabalho novo, e até lá vou curtindo essa vida de "demitida", aproveitando para ler bastante (nosso prédio tem uma estante de livros na entrada, que podem ser "pegados emprestados" = Muito Amor!), lavar a louça acumulada das últimas algumas semanas (hahaha, essa vida de trabalho andou complicando as rotinas), e relaxar. É, e vou ver se dou as caras por aqui com mais frequência agora que o tempo está sobrando, pra variar um pouco...

... Mas por hoje é só! Tem um chazinho me esperando aqui... huuummmm

Thursday, May 21, 2015

Lar doce lar

Pô, tá difícil manter a frequência dessa birosca aqui, hehehe. Sorry... Mas aos pouquinhos vai!

Onde tínhamos parado? Ah, sim, conseguimos um apartamento lindo (e boring) na estonteante velocidade cósmica de 3 dias (ligamos no sábado, visitamos no sábado mesmo, mandamos a documentação no domingo, viemos assinar os papéis na segunda! Hell yeeaaahhh!) Ainda tínhamos mais uma noite de hotel (de segunda pra terça) então dormimos mais uma vez afundados na mordomia king size e cercados de travesseiros suficientes pra 4 pequenas famílias, e terça lá fomos nós de novo, com as crianças ensacoladas e as malas todas, rumo ao nosso novo lar! Mesma treta de sempre: Anda, pega ônibus, pega metrô, sobe rampa, pára pra descansar, sobe mais um pouquinho, desiste e deixa o marido fazer duas viagens com as malas (hehe, faz parte) e finalmente estamos em casa! Temos fogão e geladeira (que aqui sempre vem nos apartamentos alugados) mas não temos nada dentro da geladeira e não temos nada na casa inteira a não ser nossas 4 malas bagunçadas pelo chão. Mas o apartamento tem um carpete fofão e nós trouxemos lençóis na bagagem, então nessa primeira noite forramos o chão e nos cobrimos com um snuggie (aqueles cobertores com mangas, sabe, tipo um roupão) e voilá, dormimos muito bem até! Os gatos se aninharam pra dormir nas nossas roupas (provavelmente o único lugar com cheirinho familiar no meio de tanta novidade) mas volta e meia saiam para explorar ou usar o banheiro e "se perdiam" da gente, e começavam a miar desesperados, até a gente "responder" e aí eles seguiam nossa voz e vinham correndo aliviados pro nosso colo.... Tadinhos, nunca moraram num lugar tão grande (ou talvez tão vazio), hehehe.


Quase chegaaaando

Chegaaando

Chegou!







Os próximos dias foram um redemoinho doido de sortes e correrias, pra conseguir arrumar as coisas básicas pra nossa casinha pelo menor preço possível. Foi tão exaustivo e maluco que eu nem consigo mais me lembrar da ordem cronológica das coisas. Não pretendíamos comprar nenhuma mobilia grande, exceto a cama e talvez algum sofá, porque o resto a gente ia conseguir de graça pelo craigslist (acho que já mencionei aqui, mas explico de novo: Craigslist é um classificados online, onde tem muita coisa pra vender/comprar, mas também tem muita coisa de graça! Pessoas que estão se mudando, ou renovando a casa, ou que por qualquer motivo não querem mais seus móveis e não tem o que fazer com eles, colocam de graça no craigslist, aí você só tem que passar lá e buscar! Só decidimos não fazer isso com cama e sofás porque poderiam vir com bed bugs ou outras pragas que depois iam dar tanta dor de cabeça e despesa pra exterminar que não valia a pena). Aí, logo no primeiro dia, indo no supermercado, passamos por uma Sears enooorme que estava fechando e vendendo tudo que ainda tinha sobrado dentro da loja por 1 pentelhonésimo do preço. Compramos um sofá-"cama" (é, ok, vou fingir que dá pra dormir nele just for the sake of argument) e uma poltrona "reclinável" (ainda não arriscamos reclinar ela... essa era do mostruário, então já está meio comprometida... suspeito que ela vá desmoronar pra trás, em vez de reclinar) mas custaram apenas 50 pilas cada! Foi um excelente negócio... o único porém? A loja estava REALMENTE fechando então tinhamos que buscar os sofás até sexta senão bye-bye, cabou, fechou, perdeu (playboy). E não, eles não entregavam mais. Fuuuu. Ok, já tínhamos um plano de eventualmente alugar um U-Haul (um esquema genial que tem aqui, em que você aluga seu próprio caminhão e faz sua própria mudança) pra sair pegando mobilias gratuitas pela cidade, mas esse lance de ter que ir buscar nossos sofás até sexta-feira complicou nossas idéias (especialmente porque o Tiago já estava estudando, então não tínhamos tanto tempo livre assim). Mas ok, se é isso que temos que fazer pra conseguir sofás baratos, é isso que vamos fazer!


Cozinha completa... Mas vazia, hahaha!















Só um resto de comida chinesa na geladeira...
... E Nutella no armário!



Mas temos que aproveitar o mesmo caminhão (pra não ter que gastar duas vezes com o aluguel), então saimos correndo pra garantir tudo que íamos querer: Entramos em contato com todos os "doadores de móveis" e combinamos de buscar tudo no dia seguinte. Também fomos seguindo nossa sorte atrás de uma cama super barata: Tínhamos visto um anúncio colado num poste no centro sobre um depósito de colchões que vende para hotéis e que estava com estoque a mais "encalhado", então estavam vendendo por tipo 1/3 do preço que em lojas normais, e foi aí que compramos nosso colchão, mas achamos a base (box) muito cara, e como estamos em contenção de despesas, decidimos deixar o colchão no chão mesmo pelo menos por enquanto.

Aí no dia seguinte, depois da aula do Tiago, lá fomos nós pegar o caminhão e rodar a cidade catando móveis de graça e nossas barganhas compradas. Tudo muito lindo, muito feliz, mas mano, vou te contar, carregar móveis e encher um caminhão não é tarefa fácil, hein.... E ainda tivemos algumas sortes/surpresas (demoras) pelo caminho: Primeiro, numa das casas em que fomos, pra buscar uma mesa de computador, a moça era tão, mas tão simpática, que quando soube que a gente tinha acabado de chegar do Brasil, e que não tínhamos nada ainda, foi rodando a casa e pegando coisas pra nos dar, então fomos lá buscar uma mesa e saímos de lá com vasos de planta, jogos americanos, copos, taças de vinho, cadeira, estante, enfim, meio caminhão cheio já aí, hehehe. Segundo: Quando passamos na Sears (a essa altura do campeonato já eram 20:30h) a moça nos deu a grande dica: Uma loja que revende as devoluções dos produtos da Sears (coisas que as pessoas compraram, levaram pra casa, mas depois mudaram de idéia e devolveram) e eles vendem as bases da cama por 20 dólares! Só que fechavam às 21:00! Saímos correndo, Tiago dirigindo o caminhão como se fosse no GTA, as coisas lá na caçamba se catraqueando a cada curva e eu ligando pra lá pra tentar ver se eles esperavam a gente: Não, não esperavam, a mulher me disse, mas conseguimos chegar a tempo e comprar a última base queen que tinha na loja!






















Foi bizarramente cansativo, mas valeu muito à pena, pois conseguimos mobiliar nossa casinha com o mínimo de custos! Só que nessa de enche cainhão, roda a cidade, des-enche caminhão, sobe as tralhas pelas escadas (é, nosso apê é no segundo andar de um prédio sem elevador), nossa mudança só acabou pra lá de meia noite... E o pobre do chuchu ainda teve que ir devolver o caminhão depois disso e voltar pra casa de ônibus (por sorte a gente agora mora no primeiro mundo, onde os transportes são confiáveis e as ruas seguras), enquanto eu desempacotava nossa cama e montava ela (e descobria que nossos lençõis que a gente tinha trazido do Brasil não serviam na cama porque era de casal e a cama é Queen, hahaha). No dia seguinte, pra me retratar com os vizinhos pela bagunça fora de gora, foi no mercadinho aqui da esquina e comprei 4 bandeijas de cookies pra colocar na portaria junto com um recadinho improvisado (escrito no papelão da caixa de sucrilhos) pedindo desculpas.






Então é isso, agora tenho que ir que já me atrasei pro trabalho! Beijos pessoal!!!!

P.S.: Cruzes, as fotos ficam horríveis nesse blog... Ignorem a disposição contemporânea delas e cliquem se quiserem ver a imagem maior. Fui!!!

Sunday, May 10, 2015

1 mês de Canadá (e feliz dia das mães)

Hoje é dia das mães. A data em si é mais simbolíca, é só uma formalidade, porque saudade de mãe é todo dia, não espera o calendário.

Hoje também faz exatamente 1 mês que desembarcamos aqui (sem mães, hehehe). Mais um marco no calendário, mas a comemoração aqui também é diária (porque as lutas e as conquistas também são).

Mas só pra não deixar passar em branco, vou fazer um post contando como foram nossos primeiros dias aqui, a viagem, o desembarque, as novas prioridades que tivemos que atacar...

A viagem foi longa (and I mean, reeeeeaaalllyyyy longa) mas tranquila: Os gatinhos, devidamente embalados e nocauteados por umas gotinhas muito doidas de calmante, quase não se manifestaram (o Sancho, que é o gato mais de boas do universo inteiro, ficou lá, relax, dormindo, tão calminho que nem demos a segunda dose das gotinhas, mas o Pepe começou a reclamar mais pro final das 30 - TRINTA - horas de viagem, mesmo com o calmante). A gente ia ter que ficar 6 horas esperando a conexão em Toronto (não existem vôos diretos Rio-Vancouver, e tivemos que pegar um vôo um pouco mais tarde de Toronto pra Vancouver por causa dos gatos, e alguma questão de número máximo de animais na cabine por aeronave) mas o mau tempo impediu o pouso em Toronto e tivemos que ir pra outro aeroporto e ficar rodando por lá (dentro do avião) até melhorar a situação lá, então quando chegamos de volta em Toronto foi só o tempo de fazer a imigração correndo e embarcar no nosso vôo (que afinal acabou por ser bastante sorte termos tido que ficar nesse vôo mais tarde, porque o resto dos passageiros todos tiveram que ir lá remarcar suas conexões... Obrigada gatinhos!) Mas com esse atraso e correrias não conseguimos comer nada no aeroporto e nossa conexão pra Vancouver era dessas mequetrefes que de graça só água e olhe lá, então tivemos que comprar comida no avião, e eu inventei de pedir uma sopinha (a coisa mais barata do menu) que no fim das contas era um cupnoodles light com gosto de absolutamente NADA! (nem sal tinha naquela birosca... cupnoodles light.... era só o que me faltava mesmo!)

Conclusão, chegamos em Vancouver do avesso de fome, mas ainda tínhamos muitas prioridades pra resolver antes de poder sequer pensar em comer: Pegar as bagagens pode parecer uma etapa fácil e normal, mas tentem, apenas tentem, andar por aí com duas malas gigantes (e socadas até o talo), uma em cada mão, e um gato a tiracolo. Normal e fácil não são mais as palavras que vêm à mente né? E ainda tendo que desviar de obstáculos e daqueles benditos pirulitos metálicos que ficam pelo chão do aeroporto pra não deixar passar os carrinhos. Bom, por sorte eu fiquei com o Sancho, que não pareceu se importar nadinha com as cacetadas acidentais que aconteceram pelo caminho até o Hotel. Sim, meus queridos, sim, o CA-MI-NHO até o Hotel, porque a gente pegou táxi? Nããããooo... A gente é pobre, lembra?! Metrô e uma belíssima caminhada up the hill, that's what we got. Eu, o Tiago, nossas 4 jamantas de rodinhas e nossos dois filhotes, pegando metrô e andando por 5 quarteirões até o Hotel. Por sorte eu não estava nos meus piores dias de coordenação motora, então fora uma entalada ou outra entrando e saindo dos elevadores, e uma das malas que insistia em tombar se eu soltasse a alça por meio segundo sequer, o trajeto foi percorrido com sucesso e sem (muitos) acidentes!

Aí faz check-in no Hotel, demora, espera, morre de fome, cartão de crédito do Brasil não funciona, vem a Gerente, "Não, não pode ser dinheiro, precisamos de um cartão de crédito", tenta esse, tenta aquele, morre de fome, espera, consegue algum deles finalmente, e pronto: Temos quarto! Soltamos os gatos no banheiro, demos água e fomos sair em busca das prioridades dos gatos (bem no espírito do dia das mães: Tem que cuidar dos filhos primeiro antes de cuidar de si). Encontramos uma petshop aberta e compramos "cama mesa e banho" pros gatinhos (ração e guloseimas, potinhos de metal, areia e caixa de areia). Serviço completo pra mimar eles depois de tanto sufoco fechados numa sacolinha de pano por mais de 1 dia inteiro (fora uma breve escapada pra esticar as patinhas no banheiro do avião). Aí sim, depois de alimentar as crias fomos nós matar nossa fome no Red Robin com um mega-cheese-burguer-boladão-de-cogumelos-e-muita-batatinha-pra-acompanhar!

É, todo mundo já sabe que minha barriguinha é meio sensível e temperamental, então, digamos que essa farra de junk food recém desembarcados do avião talvez não tenha sido a melhor idéia... Passamos num shopping na volta pro Hotel: Tiago queria dar uma olhada nos celulares e eu queria dar uma olhada no banheiro, e quando eu voltei pra encontrar com ele (não, não demorei taaanto assim) ele já tinha feito um plano de celular, já tínhamos dois números canadenses e dois aparelhos de graça. HÃN?! Como assim? Hahahaha. Só aqui mesmo (e só o Tiago mesmo). A gente não tinha nem endereço, conta no banco, ID, nada. Mal tínhamos saído do avião, for Christ's sake! Mas ainda assim, conseguimos assinar um plano de 2 anos na Roger e sair da loja com 2 celulares moderníssimos sem pagar nada por eles (pra não dizer que não pagamos nada, deixamos 100 dólares de depósito, só porque não tínhamos conta no banco, mas esses 100 dólares vão virar crédito para pagar nossas faturas)! Igualzinho ao Brasil...

Nessa noite mesmo, já com nossos celulares novos (e nosso jet lag de várias horas), ficamos olhando opções de apartamentos pra alugar, para tentar resolver essa questão à moda canadense: Rápido! Agora! Pra ontem! No dia seguinte de manhã ligamos pra geral, mandamos uma porrada de e-mails e já conseguimos marcar 4 visitas: Duas pro mesmo dia (Sábado) e duas pra Domingo. Aí é que começa a graça, hahaha

Colocamos no google maps o endereço da primeira casa a visitar e lá fomos nós: Metrô e ônibus e a vizinhança foi ficando cada vez mais eclética... Mesquitas, Centros Comunitários para imigrantes do Leste Europeu, restaurantes de culinária africana... Mais um tempo no ônibus e a paisagem mais e mais "diversificada" (nesse ponto já estávamos passando por strip clubs, casas de empréstimo/penhor e lojas meio duvidosas). Aí em frente a um posto de polícia gigantesco era nossa parada (ok, pelo menos deve ser seguro, hahaha), e fomos subindo uma rua normalzinha, com prédios antigos de 3 andares, e pensando "Well, not so bad", mas o google maps insistia em apontar para um quadradão bizarro no meio de um terreno mal cuidado. Eu: "Ah, com certeza tá apontando errado, deve ser um desses prédios bonitinhos do outro lado da rua". Não era. O """prédio""" que íamos visitar era um bloco nojento de concreto e madeira podre, com janelas quebradas e lixo na frente. E o lado de fora era até mais bem conservado que por dentro, hahaha. Vai parecer mentira, mas juro que não é: Chegamos lá pra visitar junto com uma assistente social e seu "case" (uma mulher que devia ser louca, ou mendiga, ou, muito possivelmente, os dois). É, estávamos considerando o mesmo apartamento que a assistente social considerava para alojar uma sem-teto: E ela recusou! HAHAHAHAHA (elas entraram primeiro e a mulher saiu de lá 15 segundos depois falando "É nojento, vocês não querem nem ver, é muito nojento". E era mesmo, mas, a gente, sempre tentando manter um otimismozinho básico, levou pelo lado "Ah, pelo menos é espaçoso.... E depois quando a gente tiver condições de se mudar daqui pelo menos vamos apreciar bem mais o próximo lugar". Como esse era o primeiro que estávamos visitando ficamos com um certo receio de que os outros fossem ser no mesmo nível, então já fomos tratando de nos acostumar com a idéia (se é isso que cabe no nosso orçamento, então é isso que vai ser e não adianta nada ficar se sentindo infeliz com a ideia).


Primeiro local visitado (Muquifo dos sem-tetos)


Mas aí o segundo local era lindo, muito lindo mesmo, um apartamento bem grande, num prédio antigo numa vizinhança toda fofa e cheia de velhinhos, com metrô, farmácia, supermercado e restaurantes tudo super pertíssimo. E mais ou menos pelo mesmo preço do muquifo da sem-teto! Go figure... Ficamos MEGA empolgados com esse apê (especialmente depois de termos visto o primeiro, hahaha) e já começamos a tratar de providenciar a papelada pra alugar (ainda tínhamos 2 pra ver no dia seguinte, mas como queríamos resolver isso logo, não custava nada já ir adiantando a burocracia desse apê que a gente tanto gostou - e depois do susto do buraco de cimento podre, não queríamos dar bobeira e perder um lugar legal). Na volta pra casa passamos na London Drugs pra comprar um computador (sim, é isso mesmo, compramos um notebook na farmácia, hahahaha... Só aqui mesmo, muito North America isso, a farmácia vende de tudo, cuecas, batatas fritas, aspiradores de pó, brinquedos, pizzas congeladas, eletrônicos, e até mesmo remédios!) e de volta ao hotel já começamos a preencher as coisas e arrumar todos os comprovantes (de renda, de antecedentes criminais, referências da nossa mui amada ex-landlady, etc e tal).

No dia seguinte nossas duas visitas foram: Um apartamento todo bacanoso no porão de uma mansão absurda num bairro de milionários, e um flat no último andar de uma casa muito louca no bairro dos maconheiros roqueiros doidaços. Não podia ter conseguido uma amostragem mais variada, hahaha. O porão era legal, com acabamentos luxuosos (torneiras, armários, banheira, maçanetas, tudo de primeiríssima) e ia ser até divertido brincar de morar no bairro dos milionários, maaaaassss, como a gente não é milionário e o bairro não foi feito levando em conta a ralé, não tem NADA exceto mansões e criancinhas louras brincando nas ruas por quilometros e mais quilometros (tínhamos que andar quase meia hora só pra conseguir pegar um ônibus, e depois mais meia hora no ônibus até chegar num supermercado.... Imagina "Ih, acabou o papel higiênico"). A casa dos roqueiros chapados era uma maluquice: Tinha um elevador de metal estilo steampunk e vasos em formato de caveira na varanda (que era toda remendada com madeiras tortas e pedaços de acrílico), o quarto era na verdade uma cama cercada de paredes (uma delas sendo um janelão imenso), sério, não tinha chão, você abria a porta e já era a cama, e a cozinha era um amontoado de bagunças tão grande que era difícil saber onde ficava o quê. Fora isso, era uma sala (corredor?!) e um banheiro... E nosso landlord/roomate (o cara que morava no andar de baixo e que estava alugando o studio) estava tão, mas tão drogado que não conseguia manter os dois olhos abertos ao mesmo tempo e demorava 25 minutos pra responder nossas perguntas. Ainda damos muitas risadas lembrando disso... Não sei se essas coisas acontecem com todo mundo, mas nossa busca por uma casa foi realmente engraçada.

No final das contas, entre o muquifo no bairro dos puteiros, o porão no bairro dos milionários e o o flat no bairro dos roqueiros, acabamos ficando com o apartamento normal no bairro dos velhinhos... Segundo o Tiago, isso é um sinal de que estamos ficando velhos e sem-graça, hehe. Mas adoramos nosso apartamento, que já está virando um lar, um pouquinho a cada dia, e já pode receber vocês, todos vocês, que queiserem vir visitar (acomodações 3 estrelas pela bagatela de dois sacos de farofa!)

E agora vamos sair para dar umas voltinhas e aproveitar o fim de semana. Não percam no próximo episódio, a saga de mobiliar o apartamento!

Beijos enormes e um beijo mais que especial para as mamães, pelo dia de hoje!

Wednesday, May 6, 2015

A abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou

O tempo está curto pra escrever mas é por uma boa causa! Já atingi a prioridade #4: arrumar um emprego (checked!)

Eu vou contar tudo aqui, a saga inteira de procurar emprego, então esse vai ser um post híbrido: Muita coisa de lá de trás dos inicialmentes, e muita coisa de agorinha há pouco (e nessa vamos pular um monte de histórias que ficariam pelo meio dessa conversa, mas depois eu volto a elas: Afinal, a vida não é uma narratva linear mesmo... Se nem Ele escreve por linhas retas, quem sou eu, né? hehehe)

Bom, eu comecei a procurar emprego logo de caras, ainda daí do Brasil, na época de fuçar a internet e fazer planilhas e cálculos e planos. Li sites e blogs com dicas de como fazer um currículo canadense (tive dicas dazamiga também) e como escrever cover letters específicas para cada tipo de application,  regras de etiqueta para envio por e-mail, por fax ou por correio, altas paradas... Também li vários depoimentos de estrangeiros procurando empregos aqui, e a coisa que mais se repetia era: Não adianta mandar currículo se você ainda não está no Canadá, pois eles não vão nem considerar sua application se não tiver um número de telefone canadense. "Ah, tá bom, valeu, que coisa idiota, óbvio que isso não é verdade, em plena era da internet, onde um e-mail te alcansa em qualquer lugar do planeta, e eles lá vão ter essas frescuras de mané telefone o que!" Tava certo. Nenhuma (repetindo NE-FUCKING-NHUMA) das minhas applications teve sequer um mínimo de retorno, nem ao menos um NÃO. Nada, é como se não existisse vida fora da lista telefônica canadense.... Ainda não me conformei com essa história (ainda não desceu aqui direito não) mas tudo bem, pelo menos admito que era de fato verdade e repasso a dica: Gatas, não percam seu tempo mandando currículos à distância, porque apesar de todas as mudernidades de oizindia eles ainda só sabem responder ligando pra pessoa (e não, aparentemente skype não rola, porque eu colocava sempre na cover letter e no corpo do e-mail que poderíamos facilmente marcar uma video-ligação ou ainda, que se eles quisessem, eu poderia ligar pra eles no horário que lhes fosse mais conveniente. Nada, nunca ouvi um "ai" desses biscates).

Bom, eventualmente, e com o acúmulo de tarefas que se amontoavam conforme ia chegando perto da viagem, eu desisti do país das maravilhas onde eu já chegava aqui com um emprego e decidi só retomar meus esforços quando chegasse aqui. E assim eu fiz. A gente cuidou primeiro de outras prioridades mais urgentes (que depois eu conto em outro post, que já estou pressentindo que este vai ficar gigante) mas exatamente 1 semana depois do desembarque comecei novamente a saga de procurar anúncios de emprego, ler as descrições, ajustar o currículo, fazer a cover letter, enviar. Procurar, ler, ajustar, enviar, procurar, ler, ajustar, enviar.... Passei o fim de semana com a bunda quadrada na cadeira enviando as porcarias dos currículos, e na segunda feira o telefone começou a tocar (mais uma prova de que TEM QUE SER por telefone). Tive 3 entrevistas nessa primeira semana, e eles vão me ligar de volta até quinta-feira sem falta... Sigo esperando, hehehe... Bom, chegou mais um fim de semana (mas não chegou a quinta-feira aparentemente) e lá fiquei eu mais uma vez grudada na frente do computador mandando currículos. Dessa vez o resultado foi menos abundante e só recebi uma resposta na segunda (por e-mail, pasmem!) perguntando se poderíamos marcar uma entrevista para o mesmo dia, depois das duas da tarde. "Claro, certamente, mas essa entrevista será pessoalmente ou por telefone / video call?" Cri-cri... cri-cri... "Bom, estarei disponível aguardando seu contato" Nada ainda.... Aí a otária aqui se arrumou toda, maquiagem e o escambau (vai que seria vídeo conferência afinal) e sentou no computador à 1:45. E se dependesse do infeliz tava sentada lá até agora... Esperei até às 18h antes de desistir e ir lutar pra tentar tirar o rímel à prova dágua sem o removedor de maquiagem certo (acho que esqueci no Brasil) e nesse meio tempo, de ansiedade-raiva-tédio, comi uma maça, meio pacote de batatas fritas, um mini-toucinho do céu com chantilly, 3 canecas de chá e uma banana soterrada de Nutella (#eumereço ... ou seria mais pra #ninguémmerece)

Com não tive mais nenhuma resposta ao longo da semana (como eu disse, essa safra foi mais fraca), não esperei o outro fim de semana pra voltar à saga dos currículos, e na quinta feira mais uma vez gastei minhas nádegas ficando o dia inteiro no procura-lê-ajusta-e-envia. Aí, nessas procurâncias, achei dois anúncios esquisitos, que prometiam mundos sem fundos, falavam muito de oportunidade, motivação, lero-lero e no final da embromação acabavam não explicando nadica de nada sobre a vaga em si. Ah, e segunda coisa mais esquisita: os dois tinham telefones para os candidatos ligarem pra eles, dizendo "apply today, start tomorrow". Parecia muito um scam, mas como eu não estou em posição de me fazer de rogada, e como parecia relativamente fácil pegar o telefone e ligar... eu liguei! Marquei entrevista com um deles pro dia seguinte (sexta-feira) e com o outro pra segunda (ainda tudo parecendo bem esquisito, mas, não custa nada tentar).

Na sexta então eu fui na minha entrevista suspeita e descobri qual era a da parada: o emprego é tipo de promotor, trabalho bem ralé mesmo, bater de porta em porta e fazer uma "pesquisa" sobre a qualidade do ar. A pesquisa na verdade é só um break the ice pra depois a gente tentar pegar o telefone da pessoa, que então vai para um call center onde eles tentam empurrar aspiradores de pó ou purificadores de ar ou alguma merda qualquer dessas pras pessoas. É, é meio sacanagem. Sim, eu sei disso. Mas o anúncio estava falando sério quando disse que era pra começar no dia seguinte, e o cara já me perguntou se eu podia começar sábado... Ok, não tô fazendo nada mesmo... Então lá fui eu sábado descobrir como era o esquema de semi-trapacear as pessoas pra pegar os telefones. Eles não oferecem nenhum salário base e nenhum benefício (nem ao menos fazem um contrato formal, as pessoas ficam como self-employed), mas pagam $2 por número de telefone, e mais um pouco se você conseguir muitos telefones na mesma semana, e vai fazendo uns combos e assim por diante. Claro que eles dizem que você pode ganhar até 1.200 dólares por semana (é, se você voltar pra eles com a lista telefônica, maybe...) e contam uma linda história de sucesso super pra boi dormir, mas, como eu disse, não estava fazendo nada de melhor, então fui lá ver como é que era.

O "time" parecia saído de algum desenho animado politicamente correto: Eu, uma indiana de meia idade, uma negra deslumbrante, um rapazinho meio árabe e uma chinesa que poderia ter tanto 15 anos quanto 45 e que pra completar a farra, trouxe seu bebê de 1 ano e meio pra garimpar telefones. Ah, e pra deixar a coisa toda mais engraçada, nem a indiana nem a chinesa falavam inglês (elas até sabiam algumas palavras, mas não conseguiam construir nem a frase mais simples).... Ainda não descobri como a indiana conseguiu 18 números de telefone (O.O) mas a chinesinha e seu bebê-fofo só conseguiram 3 (e esses eu vi como: Ela ficava lá sorrindo com um bebê no colo e piscando seus olhinhos repuxados e suspirando-quase-tentando-falar as 3 perguntas do "quastionário", aí as pessoas se apiedavam, pegavam o papel da mão dela e preenchiam e devolviam já preenchido). Eu consegui 35 números de telefone, o que foi mais do que meu supervisor conseguiu nesse mesmo dia, e que me rendeu 70 dólares, um certo peso na consciência, e umas leves queimaduras do solzaço que estava fazendo. É engraçado porque os únicos calçados que eu trouxe foram 3 sapatilhas (e 1 sapato de salto pra caso precisasse me produzir mais) então é isso que eu tenho usado todos os dias, aí além de massacrar um pouco meus pezinhos, eu meio que torrei eles no contorno das sapatilhas, então agora toda vez que olho pra baixo tomo um susto com meus dedinhos de lambisgóia branca num pé assustadoramente vermelho, hahahaha.

Bom, trabalhei o fim de semana nesse esquema de catar telefones, mas segunda-feira fui na outra entrevista que tinha marcado (do outro anúncio super-motivacional-e-meio-suspeito) e descobri que é mais ou menos a mesma coisa que esse (ir de porta em porta e tal), só que com algumas vantagens: Primeiro que não é pra trapacear as pessoas e pegar o número de telefone, é pra tentar convencer elas a doarem pra instituições de caridade, como o Children's Hospital e ONGs que estão ajudando a reconstruir as áreas devastadas no Nepal (aí já fico um pouco mais feliz e mais aliviada). Segundo que eles tem contrato, tudo certinho, e salário-base que vai sendo acrescido conforme a produtividade. E terceiro que é aqui super pertinho o escritório e eles te levam de van para os bairros que vamos percorrer.

Pequeno parêntesis, hehe: No outro emprego a gente tinha que ficar se combinando pra ver quem tinha carro e podia levar os outros, aí num dia eu fui com a chinesa num mega carrão que fazia tudo sozinho e ficava dando ordens enquanto tocava alguma coisa que só poderia ser a versão chinesa dos BackStreetBoys, e no outro fui de carona com a indiana num carro ferradinho e com um GPS de 1463 que nem eu nem ela sabíamos fazer funcionar (e meu celular estava sem bateria), então nos perdemos 3 vezes e ela surtou e começou a gritar comigo num inglês medonho que eu não conseguia entender...

Então hoje vai ser meu primeiro dia no outro emprego das ONGs e depois eu digo pra vocês como foi... Enquanto isso, continuo mandando currículos pra ver se acho alguma coisa mais decente, que não envolva incomodar as pessoas na santa paz das suas casas nem torrar meus pezinhos (de todo o modo, como ainda devo fazer mais um pouco desse lance de porta em porta, já investi parte do meu primeiro salário num par de tênis ultra levinhos e confortáveis :D) E pelo menos vou me exercitando e gastando as batatinhas fritas da ansieade andando uns bons quilômetros por dia!

O Tiago também está tentando arrumar alguma coisa part time, e volta e meia ele imprime meia dúzia de currículos e sai pela rua largando eles em lojas de eletrônicos, de videogames, celulares, etc, etc. Ele também passou num restaurante todo chique que tem aqui na esquina de casa e está sondando possibilidades lá... E mandou alguns currículos on-line também. Vamos ver o que sairá disso tudo, hehehe. Depois eu conto!

E agora chega que já ficou gigante o post... Até a próxima pessoal! Beijos em todos!